IN MANUS TUAS, DOMINE!
Em tuas mãos, Senhor, coloco o meu passado, o meu presente e o meu futuro. Tudo o que sou e o que tenho. Os que amo e me são caros. Os que me são confiados. Para que em tudo se faça a Tua Vontade e, possamos ser instrumentos dóceis em Tuas Mãos, para realizar a tua obra de amor no mundo e no coração de todos os homens!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012


Dos “Discursos” de São Leão Magno, papa
Todo o corpo da Igreja deve ser purificado de toda mancha
            Caríssimos, entre todos os dias que a devoção cristã celebra com honra de muitos modos, nenhum é mais importante que a festa da Páscoa, da qual todas as outras festividades da Igreja de Deus alcançam a sua solenidade sagrada. Mesmo o Natal do Senhor está ligado ao mistério pascal, porque o Filho de Deus não nasceu senão para poder ser cravado na cruz.
            No seio da Virgem foi acolhida uma carne mortal; naquela carne mortal se cumpriu a paixão, por inefável desígnio da misericórdia de Deus, até que se tornasse para nós sacrifício de redenção, remissão do pecado, e princípio de ressurreição para a vida eterna. Se consideramos, pois, que por meio da cruz todo o mundo foi redimido, compreendemos que é justo preparar-nos para celebrar a Páscoa com um jejum de quarenta dias, para poder participar dignamente dos santos mistérios.
            Devem purificar-se de toda mancha do pecado não só os maiores bispos, os simples sacerdotes e diáconos, mas todo o corpo da Igreja, todos os fiéis, para que o templo de Deus, cujo fundador é o seu próprio fundamento, seja magnífico em todas as suas pedras e resplandecente em toda parte. De fato, se as casas os palácios das autoridades supremas são com razão embelezados com todo gênero de ornamento afim de que as suas habitações sejam mais suntuosas quanto maiores são os seus méritos, com qual cuidado se deverá edificar e honrar a morada do próprio Deus!
            Esta morada, que não pode começar nem terminar sem o seu autor, exige todavia a colaboração de quem a constrói, participando com o proprio cansaço na sua edificação. De fato, para a construção deste templo se toma uma matéria viva e dotada de razão, que o Espírito anima com a sua graça, afim de que espontaneamente se constitua num único corpo. Esta Igreja é amada e querida por Deus, para que por sua vez a procure quem não a procura, e ame quem não a ama, como diz o beato apóstolo João: “Nós devemos amar-nos por que ele nos amou primeiro” (1Jo 4,11.19). Para que, portanto, todos juntos e cada um dos fiéis em particular formem um único templo de Deus, este deve ser perfeito em cada um, como em todos. E tambem se a beleza de todos os membros não é idêntica e nem é possível uma igualdade de méritos em tão variedade de partes, todavia a união da caridade obtém uma harmonia de beleza. Assim todos os membros estão unidos num amor santo, e embora não gozando em igual medida dos benefícios da graça, se alegram mutuamente com os respectivos bens, e tudo o que amam pertencem a estes, em quanto aqueles que se alegram com o bem dos outros  enriquecem-se a si mesmos.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

SAÚDE PARA TODOS
“Que a saúde se difunda sobre a terra” (Eclo 38,8)
“A saúde é direito de todos e dever do Estado...”
(Constituição Federal do Brasil de 1988)

            A Igreja do Brasil, mais uma vez, em sintonia com o espírito penitencial do Tempo da Quaresma, realiza a Campanha da Fraternidade, esforçando-se por dar à penitência e ao esforço quaresmal uma dimensão concreta, ao chamar a atenção das comunidades cristãs católicas à algum aspecto da realidade do povo brasileiro que merece maior cuidado e um esforço conjunto para a solução dos seus problemas e a superação dos seus desafios.
            Neste ano, a Campanha da Fraternidade tem como tema: “Fraternidade e Saúde Pública”, e o lema: “Que a saúde se difunda sobre a terra” (cf. Eclo 38,8). À primeira vista este tema parece repetir o da Campanha da Fraternidade de 1981: “Fraternidade e Saúde – Saúde para todos”.
            Na verdade, o tema deste ano avança na abordagem da questão da saúde. Partindo do princípio de que a ação de Jesus foi de gerar vida em abundância (Jo 10,10), e de que a salvação conquista por Ele é também sinônimo de vida saudável, saúde integral e bem estar para todos; deparamo-nos com uma realidade bastante difícil que nos desafia a todos.
            Falando da vida saudável como sinônimo de saúde, o Texto-base da CF relembra que: “A vida saudável requer harmonia entre corpo e espírito, entre pessoa e ambiente, entre personalidade e responsabilidade.” (n.15). Não se trata portanto apenas de garantir recursos, e incrementar os equipamentos da saúde, mas desincadear um processo que leve as pessoas desde a defesa e promoção dos seus direitos a tratamento adequado, até a tomada de consciência da importância de cuidar da vida e cultivar da saúde através da prevenção cuidadosa às doenças e da participação daqueles espaços criados para salvaguardar o acesso de todos à vida com qualidade.
            O Texto Base da CF-2012 chama nossa atenção para as grandes preocupações na saúde pública no Brasil, alertando para as “doenças crônicas não transmissíveis (doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, cânceres, doenças renais crônicas e outras); doenças trnamissíveis (AIDS, tuberculose, influenzae ou gripo, dengue ou outras); fatores comportamentais de risco modificáveis (tabagismo, dislipidemais por consumo excessivo de gorduras saturadas de origem animal, obesidade, ingestão insuficiente de frutas e hortaliças, inatividade física e sedentarismo); dependência química e uso crescente e disseminado de drogas lícitas e ilícitas (álcool, crach, oxi e outras); causas externas (acidentes e violências).” (n. 65)
            Estas doenças são responsáveis por um alto índice de mortes ocorridas, hoje, no mundo; que, portanto, podem ser envitadas com programas de prevenção, ou iniciativas pessoais e comunitárias.
            A temática da CF-2012 obriga-nos, ainda, a refletir sobre a importância e a necessidade de conhecimento mais aprofundado sobre o SUS (Sistema ùnico de Saúde). Inspirado em belos princípios como a proposta de atender a todos, indiscriminadamente, ele ainda não conseguiu ser implantado e, está longe de atingir os seus objetivos.
            Um dos aspectos que dificulta ao SUS atender às necessidades das populações, está ainda na pouca participação da população aos processos de tomada de decisão, ou seja, o distanciamento e a falta de informação das pessoas sobre a importância de participar das instâncias colegiadas do SUS (Conselhos e Conferências de Saúde), cujo objetivo é manter o controle social sobre o próprio SUS. (cf. n.115)
            Merece nossa atenção a importância de formar e estimular as pessoas para participar dos Conselhos e Conferências de Saúde que são “espaços de participação democrática por meio dos quais se pode avançar na melhoria dos serviços públicos. Os Conselhos têm caráter deliberativo e a função de exercer o papel de formulação, acompanhamento e controle permanente das ações do governo em seus três níveis.” (n. 116)
            Em nosso país os recursos destinados à saúde atinge 15% da arrecadação municipal e 12% da estadual. Somados aos recursos provenientes da esfera federal, “têm obrigatoriamente que ser administrados com a parcticipação popular”, para “evitar práticas de corrupção ou o uso dos cargos de administração pública como moeda eleitoral, que normalmente alça a tais cargos pessoas despreparadas para umaárea de vital importância para a população.” (n. 118)
            Não deixa de preocupar o fato de que muitos governantes, não destinarem nem o mínimo do investimento na saúde, gerando um arriscado e perigoso subfinanciamento na saúde pública.
            Esta realidade, marcada por sombras e luzes, possibilidades e entraves, está a exigir das comunidades cristãs uma ação conjunta para poder ser conformada à vontade do Criador que quer que a saúde se estenda sobre toda a terra (cf. Eclo 38,8).
            Ao tratar da saúde, o autor do livro do Eclesiástico, inspirado por Deus, sugere que o “mais importante que curar é o trabalho de evitar que as pessoas adoeçam e promove-las para que tenham vida em abundância. Realidade que o ditado popular consagrou: ‘é melhor prevenir que remediar’.” (n. 158)
            Além do mais, na compreensão do autor sagrado é Deus quem providencia os bens e recursos e suscita pessoas capazes de cuidar da saúde e superar as doenças. Deus é parceiro das suas criaturas, no combate e na superação da enfermidade; pois é Ele, o Criador, que favorece as conquistas alcançadas pela inteligência humana na promoção da vida e na garantia de saúde para todos.
             Muitas são as iniciativas que podem surgir da Campanha da Fraternidade pessoal e comunitariamente: o cuidado de cada um com a própria saúde, como a higiene pessoal e a assimilação de hábitos saudáveis; a conscientização dos direitos das pessoas à vida saúdavel, saúde equilibrada e bem estar, a participação efetiva da comunidade nos Conselhos e Conferências de Saúde, a atenção pessoal aos que sofrem nos próprios lares, na vizinhança e a participação na Pastoral da Saúde.
            Acolher o convite da CF-2012: “Fraternidade e Saúde Pública” é dar ao nosso esforço de conversão pessoal e comunitária uma fisionomia nova, marcada pela esperança, na defesa e promoção da vida. Vamos todos participar!

Dom Milton Kenan Júnior
Bispo Auxiliar de São Paulo



           

 
O MEU CÉU NA TERRA!...
"A tua Face é a minha única Pátria
Ela é o meu Reino de amor
É a minha radiosa Pastagem
O meu doce Sol de cada dia.
 Ele é o Lírio do vale
Cujo perfume misterioso
Consola a minha alma exilada,
Faz-me saborear a paz dos Céus.

A tua Face é a minha única riqueza
Eu não peço nada mais
Escondendo-me nela sem cessar
Parecer-me-ei contigo, Jesus...
Deixa em mim a Divina marca
Dos teus traços cheios de doçura
E em breve, tornar-me-ei santa
                                                       E atrairei para Ti os corações." (Santa Teresinha, PO 21,3.5)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

BENTO XVI REFERE-SE ÀS PALAVRAS DE JESUS: IN MANUS TUAS, NA AUDIÊNCIA GERAL DE 16-02-2012

"A prece de Jesus neste momento de sofrimento - "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" - é um brado forte de confiança extrema e total em Deus. Tal oração expressa a plena consciência de não estar abandonado. A invocação inicial - "Pai" - recorda a sua primeira declaração, quando tinha doze anos. Então, permaneceu por três dias no templo de Jerusalém, cujo véu agora se rasgou. E quando os pais lhe manifestaram a sua preocupação, respondeu: "Por que me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?" (Lc 2, 49). Do início ao fim, o que determina completamente o sentir de Jesus, a sua palavra, o seu gesto, é a relação singular com o Pai. Na Cruz, Ele vive plenamente no amor esta sua relação filial com Deus, que anima a sua oração.
As palavras proferidas por Jesus, após a invocação: "Pai", retomam uma expressão do Salmo 31: "Nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Sl 31, 6). Estas palavras não são uma simples citação, mas manifestam ao contrário uma decisão firme: Jesus "entrega-se" ao Pai num gesto de abandono total. Estas palavras são uma prece de "entrega", cheia de confiança no amor de Deus. A oração de Jesus diante da morte é dramática, como o é para cada homem, mas ao mesmo tempo está imbuída da calma profunda que nasce da confiança no Pai e da vontade de se entregar totalmente a Ele. No Getsémani, quando começou a luta final e a oração mais intensa e estava para ser "entre nas mãos dos homens" (Lc 9, 44), o seu suor tornou-se "como gotas de sangue que caíam na terra" (Lc 22, 44). Mas o seu Coração obedecia totalmente à vontade do Pai, e por isso "um anjo do céu" veio confortá-lo (cf. Lc 22, 42-43). Ora, nos últimos instantes, Jesus dirige-se ao Pai, dizendo quais são realmente as mãos às quais Ele entrega toda a sua existência. Antes de partir em viagem rumo a Jerusalém, Jesus tinha insistido com os seus discípulos: "Prestai bem atenção ao que vou dizer-vos: o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens" (Lc 9, 44). Agora que a vida está para O deixar, Ele sela na prece a última decisão: Jesus deixou-se entregar "nas mãos dos homens", mas é nas mãos do Pai que entrega o seu espírito; assim - como diz o evangelista João - tudo se cumpre, o supremo gesto de amor é levado até ao fim, ao limite e mais além."

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Deus busca os homens, não as coisas humanas
Dos Discursos de São Pedro Crisólogo, bispo
                Quem escutar atentamente aprenderá do Evangelho de hoje por qual motivo o Senhor do céu, o restaurador do universo, entrou nas pobres habitações terrenas dos seus servos. Mas não há por que maravilhar-se que tenha se aproximado de todos afavelmente, ele que com tanta bondade viera para socorrer todos.
                Considerai o que atraiu Cristo à casa de Pedro: certamente não era o desejo de repousar, mas a enfermidade da paciente; não a necessidade de comer, mas a oportunidade de salvar; de colocar a serviço o seu poder divino, não de fazer-se servir suntuosamente pelos homens. Na casa de Pedro não se serviam vinhos, mas lágrimas. Por isso Cristo entrou nela: não para banquetear-se, mas para restituir a vida. Deus busca os homens, não as coisas humanas; deseja dar os bens celestes, não receber os terrestres; Cristo vem para nos recuperar, não para pedir nossas coisas.
                “Entrou Jesus na casa de Pedro e viu a sogra dele que estava na cama com febre” (Mt 8,14). Cristo, estando na casa de Pedro, ocupa-se logo daquilo para o qual viera: não considera o aspecto da casa, nem as multidões que lhe acorrem ao encontro, nem a honra dos que o saúdam, e nem mesmo repara o aproximar-se dos parentes; não se interessa do decoro dos preparativos, mas vê somente o gemido da enferma, mas a sede da mulher febril. Vê-la grave fora  toda esperança humana, e logo estende a mão à ação divina: havia pressa de inclinar-se diante da humanidade sofredora daquela mulher, que já se erguia do seu leito ao encontro da Sua divindade. ”Tocou-a com a mão e a febre desapareceu” (Mt 8,15). Vede como a febre abandona que é tomado pela mão de Jesus: a enfermidade não resiste diante do autor da saúde; não há acesso para a morte lá onde entrou aquele que dá a vida.
                “Chegada a tarde, levaram-lhe muitos endemoniados e eles expulsou os espíritos com a sua palavra” (Mt 8,16). Chega a tarde quando se conclui a jornada terrena, quando o mundo se afasta da luz dos tempos. Aquele que restitui a luz vem de noite, para restituir o dia sem ocaso a nós pagãos que caminhamos na noite dos séculos. De noite, isto é nos ultimos tempos, o sacrifício devoto e solene dos apóstolos oferece a nós pagãos a Deus, e são expulsos de nós o demônios que nos mantinham sujeitos com o culto dos ídolos. De fato, ignorando o único Deus, servíamos inumeráveis deuses com sacrilega e desprezível escravidão.
                A nós o Cristo não vem segundo a carne, vem com a palavra: mas se a fé depende da escuta e a escuta da palavra (cf. Rm 10,17), ele nos libertou da escravidão dos demonios, enquanto estes de ímpios tiranos tornaram-se prisioneiros. Deste momento os demonios que mandavam caíram em nossas mãos, submissos às nossas ordens: que agora a nossa infidelidade, irmãos, nos nos leve a ser seus escravos. Recomendemos ao Senhor a nós e nossas ações, confiemo-nos ao Pai, creiamos em Deus: por que a vida do homem está nas mãos de Deus, que como Pai guia as ações dos filhos, e emquanto Senhor não abandona o cuidado da sua familia.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

A virtude de Maria que a Igreja deve imitar
                Enquanto a Igreja já alcançou na bem-aventurada Virgem essa perfeição que faz que ela se apresente sem mancha nem ruga (cf. Ef 5,27), os fiéis, porém continuam ainda a esforçar-se por crescer na santidade, vencendo o pecado; por isso levantam os olhos para Maria que refulge diante de toda a comunidade dos eleitos como modelo de virtudes. A Igreja, refletindo piedosamente sobre Maria e contemplando-a à luz do Verbo feito homem, penetra cheia de respeito, mais e mais no íntimo do altíssimo mistério da encarnação, e vai tomando cada vez mais a semelhança do seu Esposo. Com efeito, Maria, que entrou intimamente na história da salvação, de certo modo reúne em si e reflete as maiores exigências da fé; quando é exaltada e honrada, ela atrai os crentes para seu Filho, para o sacrifício dele e para o amor do Pai. E a Igreja, por sua vez, empenhada como está na glória de Cristo, torna-se mais semelhante ao seu modelo tão excelso, progredindo continuamente na fé, na esperança e na caridade, buscando e cumprindo em tudo a vontade de Deus. Com razão, a Igreja, também na sua atividade apostólica, olha para aquela que gerou a Cristo, concebido do Espírito e nascido da Virgem precisamente para poder nascer e crescer, por meio da Igreja, também no coração dos fiéis. A Virgem, durante a vida, foi modelo daquele amor materno de que devem estar animados todos aqueles que colaboram na missão apostólica da Igreja para a redenção dos homens.
Ensinava como quem tem autoridade
Das Homilias sobre S. Mateus de São João Crisóstomo, bispo
                “Foram a Cafarnaum e, entrando na cidade no dia de sábado, na sinagoga, Jesus se colocou a ensinar. E ficam maravilhados com o seu ensinamento” (Mc 1,21-22). Certamente era lógico que a gravidade do discurso os perturbasse e se sentissem atordoados pela sublimidade dos preceitos; mas na verdade era tão eloquente a força do Mestre, a ponto de fascinar muitos deles persuadindo-os a não afastar-se dele, terminado o discurso, pelo gosto provado no ouvi-lo. De fato, quando desceu do monte, os ouvintes não se foram dali, mas toda a massa da gente o seguiu, tanto fascínio lhes havia inspirado a sua doutrina.
                Mas sobretudo admiravam o seu poder. De fato não fala referindo-se à palavras de outros, como os profetas e Moisés, mas em toda palavra mostrava de ter ele mesmo a autoridade. Depois de haver cidado a lei, acrescentava: “Mas eu vos digo” (Mt 5,22); e recordando o dia do juízo, indicava a si mesmo como juiz seja do castigo como do prêmio. Por isso, parecia logico que ficassem perturbados. Se os escribas que haviam visto o poder dele nas obras, lhe jogaram pedras e o expulsaram, como era possível que lá, onde a sua força interior se mostrava só com palavras;  não criassem neles perplexidade, tanto mais que foram pronunciadas no inicio, antes ainda que ele manifestasse visivelmente o seu poder? Todavia não sofreriam isso, pois quando de fato o homem é reto e sábio, facilmente aceita o ensinamento da verdade.
                Os fariseus, embora os milagres proclamassem o seu poder, permaneciam enfurecidos; estes (a multidão que o ouvia) ao invés, só ao escutar a sua palavra, se submetiam e o seguiam. O evangelista o diz expressamente: “muita gente o seguia” (Mt 8,1); não eram portanto os príncipes e os escribas, mas todos aqueles em quem não havia malicia e que tinham o coração sincero. Em todo o evangelho surge sempre este tipo de seguiodores. Quando falava, escutavam-no em silêncio, sem interrompe-lo ou perturbar o seu discurso, sem tenta-lo, nem buscar a ocasião de prende-lo como faziam os fariseus; e quando havia terminado de falar o seguiam cheios de admiração. Queria que tu considerasse a prudencia do Senhor, como usa modos diversos seguindo a utilidade dos ouvintes, passando dos milagres às palavras,e logo das palavras aos milagres. De fato, antes de subir o monte curou muitos, como para preparar o caminho para aquilo que devia dizer. E depois de ter terminado este longo discurso, voltou aos milagres, confirmando das palavras com os fatos. Por que de fato “ensinava como aquele que tem autoridade” (Mc 1,22), a fim de que este modo de ensinar não tivesse pompa e ostentação, o traduz imediatamente nas obras: cura tambem as enfermidades como aquele que tem o poder, a fim de que vendo-o cumprir de tal modo o milagre, não permanecessem perturbados por causa dos seus ensinamentos.
Maria e a Igreja
            A Virgem Maria, que na anunciação do anjo recebeu o Verbo de Deus no seu coração e no seu corpo, e deu a vida ao mundo,é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor. Remida de modo mais sublime em atenção aos méritos de seu Filho, e unida a ele por vínculo estreito e indissolúvel, foi enriquecida com a sublime prerrogativa e dignidade de Mãe de Deus Filho, e, portanto, filha predileta do Pai e sacrário do Espírito Santo; com este dom de graça sem igual, ultrapassa de longe todas as outras criaturas celestes e terrestres. Ao mesmo tempo encontra-se unida na estirpo de Adão com todos os homens que devem ser salvos; mais ainda, é “verdadeiramente mãe dos membros (de Cristo)...porque com o seu amor colaborou para que na Igreja nascessem os fiéis, que são os membros daquela cabeça”. Por esta razão é também saudade como membro supereminente e absolutamente singular da Igreja, e também como seu protótipo e modelo acabo da mesma, na fé e na caridade; e a Igreja católica, guiada pelo Espírito Santo, honra-a como mãe amantíssima, dedicando-lhe afeto de piedade.” (Lumen Gentium, 53)

domingo, 22 de janeiro de 2012

Converte-te e te salvarei
Das “Obras católicas” de Tertuliano, presbítero.
            Depois de tais e tão graves culpas do orgulho humano, iniciadas com a rebelião de Adão; depois do castigo infligido ao homem e à sua herança de pecado, depois da expulsão do paraíso e da submissão à morte, Deus amadureceu em si, por assim dizer, como uma revanche de misericórdia, e daí derivou como um tipo de arrependimento, que o levou a anular a sentença da primitiva ira, com o compromisso de perdoar a criatura feita à sua imagem.
            Ele então formou para si um povo e o cumulou de dons inefáveis de seu amor, mas devendo constatar tantas vezes a obstinada ingratidão, não cessou de exortá-lo à penitência por boca de todos os profetas. E no prometer a sua graça, com a qual nos últimos tempos iluminaria o mundo inteiro na luz do seu Espírito, quis que esta fosse precedida pela imersão batismal, para que tal sinal de penitência dispusesse em antecipação os ânimos daqueles que chamaria, na graça, às promessas já feitas à estirpe de Abraão.
            João não se cala: “Convertei-vos”(Mt 32,). De fato, se já se aproximava para os povos a salvação; o Senhor a cumpria segundo a promessa de Deus. Ele então a fazia preceder pela penitencia que purificaria as almas lançando fora, cancelando e distanciando do coração do homem toda inclinação do primeiro pecado e toda mancha devida à ignorância, preparando assim para o advento do Espírito Santo, uma habitação limpa, na qual pudesse tomar morada com os seus dons celestes. De todos estes bens um só é o motivo: a salvação do homem, depois de ter cancelado os pecados do passado; esta é a razão da penitência, esta a sua função, que o plano da misericórdia divina facilitando, alegra o homem e é agradável a Deus.
            Aquele que estabeleceu o juízo e a pena para todas as culpas da carne e do espírito, da obra ou da intenção, prometeu também o perdão por meio da penitência, dizendo ao povo: arrepende-te e te salvarei. E ainda: “Como é verdade que eu vivo – oráculo do Senhor Deus – não me agrada a morte do ímpio, mas que o impio desista da sua conduta e viva” (Ez 33,11).
            A penitência é portanto a vida que te é oferecida em lugar da morte. E tu, pecador como eu, antes, menos do que eu – eu de fato sei de sê-lo mais do que ti – levanta-te e abraça-a, agarra-te a ela, com a ânsia e a confiança com que o náufrago se agarra a uma tábua. Ela te levantará quando estiverdes submerso nas ondas do pecado e te conduzirá ao pôrto da divina clemência. Agarra a ocasião de uma fortuna inesperada, para que tu, que diante do Senhor eras nada, gota num balde, pó da praça, barro do oleiro, tu possa tornar-te árvore, aquela árvore plantada junto ao curso d´água” das folhas sempre verdes, “que dá fruto a seu tempo” (Sal 1,3)e não conhece nem o fogo nem o machado.

Nossa comunhão com os santos.
                “Ao contemplarmos a vida daueles que seguiram fielmente a Cristo, novo motivo nos impele a procurarmos a cidade futura (cf. Hb 13,14; 11,10); ao mesmo tempo, aprendemos a descobrir, no estado e condição de cada um, qual é o caminho mais seguro para chegarmos, por entre as vicissitudes deste mundo, até à união perfeita com Cristo, quer dizer, à santidade. Deus manifesta de forma viva aos homens a sua presença e o seu rosto na vida daqueles que, embora possuindo uma natureza igual à nossa, se transformam mais perfeitamente na imagem de Cristo (cf. 2Cor 3,18). Neles é Deus quem nos fala e nos mostra um sinal do seu reino, para o qual somos fortemente atraídos, ao vermos tão grande nuvem de testemunhas que nos envolve (cf. Hb 12,1), e tais provas da verdade do Evangelho [...] a comunhão com os santos nos une a Cristo, de quem promana, como de fonte e cabeça, toda a graça e a própria vida do povo de Deus. Muito convém, portanto, que amemos estes amigos e co-herdeiros de Jesus Cristo e também irmãos nossos e benfeitores insígnes, que demos as devidas graças a Deus por no-los ter dado, que os invoquemos humildemente e que recorramos às suas orações, à sua intercessão e ao seu auxílio para impetrarmos de Deus as graças necessárias, por meio de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor, único Redentor e Salvador nosso. Na verdade, todo o amor autêntico que manifestamos aos bem-aventurados dirige-se por sua natureza a Cristo e termina nele “coroa de todos os santos”, e, por ele, termina em Deus, que é admirável nos seus santos e neles é glorificado.” (Lumen Gentium, 50)

domingo, 15 de janeiro de 2012

POR UM MUNDO DE JUSTIÇA E DE PAZ!

                Há poucos dias inicíavamos o novo ano de 2012 da era cristã, com  votos de felicidades, desejando saúde, alegria e paz para nossos familiares, conhecidos e amigos. Acompanhando os fatos destas primeiras semanas, não é difícil perceber que para milhões de pessoas as primeiras semanas do Novo Ano foram marcadas pela desolação e pelo desespero diante de catástrofes causadas seja pela natureza enfurecida, como pelas mãos (ou omissões) humanas. Se, por um lado, a novidade do ano nos proporciona possibilidades de renovação e esperanças, por outro, lamentamos que os dramas e aflições vividos pelas populações mais carentes ainda sejam os mesmos.
                No final do mês de dezembro, 400 barracos na Favela do Moinho (no Centro de S. Paulo), foram destruídos por um incêndio, que deixou 1.500 pessoas desalojadas, entre adultos, jovens e crianças. O drama vivido pos estas familias, acompanhado de perto por Dom Odilo, nosso Arcebispo; pela Comunidade Aliança de Misericórdia, pela CARITAS Arquidiocesana, pelos Padres Giampietro da Missão Belém e Julio Lancelotti do Vicariato do Povo da Rua, ainda não teve fim. Ainda hoje, são muitas as familias que estão esperando o auxilio para poderem reconstruir suas “casas” numa área próxima ao centro da cidade, a fim de poderem continuar a garantir a sua sobrevivência com a coleta do lixo.
                Além do drama das familias da Favela do Moinho, somou-se a aflição de centenas de pessoas, que vivem viviam no Bairro da Luz, na chamada “Cracolândia”, quando no dia 3 de janeiro foram surpreendidas com uma ação da Polícia Militar, com o objetivo de coibir e erradicar o consumo do “crack” na Região. Se o cenário daquelas pessoas jogadas pelas calçadas e sargetas, vítimas do consumo da droga, impressionava; cenas de violência praticadas pela Polícia Militar com usuários nas ruas e praças próximas dali impressionaram ainda mais.
                Neste  final de semana o jornal “A Folha de S. Paulo”  apresentava dados de uma pesquisa (DataFolha) que indica a situação de miséria da grande maioria da população que vive na chamada “Cracolândia”: 77% dos que la frequentam moram nas ruas e 20% estão nesta situação há mais de dez anos; 27% não têm trabalho e nem procura um, e quem diz trabalhar, faz bico (45% contra 17% na média em São Paulo) recolhendo material na rua para vender, guarda carros ou se prostitui. Em sua maioria são homens (84%),  entre 16 e 34 anos (63%) e moram sozinhos (71%). O percentual de mães que vivem ali chega a 90% das mulheres entrevistadas.
                Estes numeros indicam que se trata de gente abaixo do índice da miséria, chamados pelo mesmo jornal de “escluídos dos excluídos”. Daí, a gente entende o que o Pe. Julio Lancelotti quer dizer quando afirma: “Alguma coisa devia ser feita, sim; mas não qualquer coisa e nem a pior!” Tratar esta população com gaz, balas de borracha e cacetetes; ou seja, enfrentar esta situação com aparato policial é a “pior coisa” que poderia ser feita.
                Esta tem sido a triste sorte de milhares de pessoas vítimas da violência da droga, no início deste ano Ano. Em poucos dias viram suas esperanças evaporarem e, se houve para eles algum voto de bom ano, estes ficaram apenas nos votos.
                Tem sido eloquente o testemunho das Comunidades Aliança de Misericórdia, Missão Belém, Comunidade Emaús, Missão Eucarística Voz dos Pobres e, do Vicariato do Povo da Rua em acolher, abrigar, socorrer, ajudar centenas de pessoas vítimas da violência brutal. Importante aqui deixar também uma palavra de louvor à Igreja Batista, que mantém naquelas imediações , já há dois anos, a “Cristolândia”, local de acolhida e apoio humano e espiritual às vítimas do “crack”.
                Esperança sempre há, pois a mesma pesquisa afirma que 69% dos entrevistados  pretende procurar tratamento para se livrar da droga. Outros, 54% diz já ter procurado tratamento, sem sucesso.
                Esta realidade, no início deste novo Ano, nos interpela! Mas, olhando um pouco além dos limites do município de São Paulo, avaliamos a aflição das muitas familias, nestas ultimas semanas, vítimas das fortes chuvas, e transbordamento dos rios, que provocam a destruição de casas, rodovias, plantações...em áreas já afetadas no passado. No ultimo dia 12 de janeiro, completou-se um ano da devastação provocada pelas chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro, precisamente em Teresopolis e Nova Friburgo; e os jornais noticiavam o pouco que foi feito para aliviar as familias que no ano passado perderam seus bens, e, sobretudo, seus entes queridos.
                Ao mesmo tempo, com as cenas de dor, de violência insana, de desastres naturais causados por falta de cuidado com o meio ambiente e as populações desprotegidas, vêm à tona denuncias de desvio de verbas publicas, enriquecimento fraudulento, da parte de Ministros da Republica e, lamentavelmente de Magistrados que colocam em duvida a idoneidade de instituições cuja tarefa é salvaguardar a justiça e a paz em nossa Nação!
                Este triste cenário, retratado em poucas palavras, e de forma tão superficial, nos coloca diante da nossa missão no início deste novo Ano de 2012. Um ano importante sob muitos aspectos; sobretudo, pelas eleições municipais que ocorrerão no segundo semestre. Infelizmente para muitos é ocasião de “lucrar” com os votos “comprados” ou “vendidos”. Como seria importante que desencadeássemos em nossas comunidades, a formação das consciências, de tal modo que, o “voto” se transforme num instrumento de eleger aqueles e aquelas que realmente, pelo seu histórico de vida e conduta política e pelo seu programa de governo manifestam um compromisso real com a justiça, a verdade e a paz.
                O Papa Bento XVI, como faz todos os anos, na sua Mensagem para a Celebração do Dia Mundial da Paz deste ano, chamou a atenção para necessidade de “Educar os jovens para a Justiça e a Paz”.
                As palavras do Papa parecem sinalizar para nós o caminho a ser percorrido para não deixar naufragar a esperança diante de fatos tão desalentadores. O Papa fala da importância dos jovens procurarem a verdade, defenderem o bem comum e possuírem perspectivas abertas sobre o mundo e olhos capazes de ver “coisas novas”; ou seja, não se sujeitarem a logica do lucro fácil, do enriquecimento ilícito, e do prazer desenfreado. Devemos sonhar, não podemos deixar de sonhar e lutar pelo sonho de um mundo onde Deus não seja uma categoria a mais de consumo, mas Presença de Amor que estimula homens e mulheres a deixarem-se amar e amarem em profundidade.
                O Papa fala tambem de “relações de gratuidade, misericórdia e comunhão” como alternativa para o mundo frio dos “direitos” e “deveres”, onde a lógica do mais forte se impõe sobre os mais fracos. Gratuidade, misericórdia e comunhão, são no dizer do Papa os indicativos mais importantes para que na sociedade se veja reinar a justiça e a paz..
                Na sua Carta a Filêmon, ao defender o escravo Onésimo, S. Paulo diz que este último é o seu próprio coração (Flm 1,12); e, “se, pois, me tens como companheiro, recebe-o como se fosse a mim mesmo. E se ele te deu algum prejuízo ou te deve alguma coisa, põe isso na minha conta. Eu, Paulo, o escrevo de próprio punho: sou eu que pagarei.” (Flm 1,17-18)
                É uma das mais belas expressões ricas em gratuidade, misericórdia e comunhão, daquele que veneramos como nosso Patrono (Arquidiocese de S. Paulo) e, oxalá servisse de estimulo para um renovado empenho de nossa parte, para vermos surgir uma cultura de respeito, de solidariedade e de paz, onde cada um se tornasse nosso próprio coração; e, pudessemos saldar a conta alheia com nossa solidariedade fraterna.
                Olhando com esperança os destinos do nosso mundo, no inicio deste Novo Ano, quero desejar a todos um Ano repleto de graças divinas, de solidariedade e de paz!

Dom Milton Kenan Júnior
               

sábado, 14 de janeiro de 2012

Quem busca a Cristo busca tambem os seus sofrimentos e não rejeita do sofrimento
Comentário sobre o Salmo 118 de S. Ambrósio, bispo
                “A Sabedoria diz: “O zombador busca a sabedoria e não a encontra” (Pv 14,6); não porque o Senhor não queira deixar-se encontrar pelos homens, Ele que se oferece a todos, mesmo aos que não o buscam; mas por que o zombador o procurou com tais ações que o tornam indigno de encontrá-Lo. De resto, Simão que o esperava com animo reto, o encontrou.
                André o enconrou e disse a Simão: “Encontramos o Senhor” (Jo 1,41). Tambem Felipe disse a Natanael: “Encontramos aquele de quem escreveram Moisés na lei e os profetas, Jesus, filho de José de Nazaré” (Jo 1,45). E para mostrar-lhe que havia encontrado de fato a Cristo, acrescentou: “Vinde e vede” (Jo 1,46). Assim quem busca a Cristo, venha, não com passos terrenos, mas com a disposição da alma: procura vê-lo não com os olhos, mas com o olhar interior. O Eterno, de fato, não se pode ver com os olhos do corpo, porque “as coisas visíveis são de um momento, as invisíveis são eternas” (2Cor 4,18).
                O Cristo portanto não está no tempo, mas é gerado pelo Pai antes do tempo; enquanto Deus, verdadeiro Filho de Deus, e enquanto perfeição eterna, está fora do tempo, e nenhum limite o circunscreve; enquanto é vida, está acima do tempo e como tal não será jamais alcançado pelo dia da morte.
                No que diz respeito à sua morte, ele morreu para o pecado uma vez por todas; agora ao invés pelo fato que vive, vive para Deus” (Rm 6,10). Compreende aquilo que disse o Apóstolo? “Ele morreu para o pecado uma vez por todas”. Cristo morreu uma vez só por ti pecador; tu portanto, depois de haver recebido o batismo, não peques mais. Morreu uma única vez para todos, e morre uma só vez, não mais vezes, para os indivíduos. Tu, homem, és pecado; por isso o Pai onipotente tornou pecado o seu Cristo; o fez homem para que levasse os nossos pecados. Para mim, portanto, o Senhor Jesus morreu para o pecado, “para que nós pudéssemos nos tornar por meio dEle justiça de Deus” (2Cor 5,21).  Para mim morreu, para poder ressurgir por mim. Morreu uma única vez; e uma única vez ressuscitou. E tu que está morto, sepultado e ressuscitado com ele pelo batismo, cuide bem, depois de estar morto uma vez, de voltar a morrer.
                Agora não morreste mais para o pecado, mas para o perdão; ressuscitaste, não morras mais uma segunda vez, por que “Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais, a morte não tem maispoder sobre ele” (Rm 6,9). Então a morte o submetera?  Sim, do momento que diz “não tem mais poder sobre ele”, quer dizer que antes este poder houvera. Não desperdice este dom, ó homem! Por ti Cristo se submeteu ao poder da morte, para libertar-te do seu jugo. Aceitou a escravidão da morte para dar-te a liberdade da vida eterna.
                Por isso quem busca a Cristo busca tambem os seus sofrimentos e não rejeita o sofrimento. “Não angústia eu gritei ao Senhor, e Ele me respondeu e me libertou” (Sl 117,5). Bom é portanto o sofrimento que nos torna dignos de ser amplamente atendidos pelo Senhor. Ser por ele antendidos é de fato uma graça. Por isso quem busca Cristo não rejeita a tribulação, e quem não a rejeita é encontrado pelo Senhor. Não rejeita quem acolhe os mandamentos de Deus no coração e com as obras.”
Índole escatológica da nossa vocação
“Unidos, pois, a Cristo, na Igreja, e marcados pelo selo do Espírito Santo, “que é o penhor da nossa herança”  (Ef 1,14), chamamo-nos e na realidade somos filhos de Deus (cf. 1Jo 3,1), mas não aparecemos ainda com Cristo na glória (Cl 3,4), na qual seremos semelhantes a Deus, porque o veremos tal como ele é (cf. 1Jo 3,2). Assim “enquanto habitamos no corpo, vivemos no exílio longe do Senhor” (2Cor 5,6) e apesar de possuirmos as primícias do Espírito, gememos dentro de nós (cf. Rm 8,23) e suspiramos por estar com Cristo (cf. Fl 1,23). Este mesmo amor nos impele a vivermos mais intensamente para aquele que por nós morreu e ressuscitou (cf. 2Cor 5,15). Por isso, nos empenhamos em agradar em tudo ao Senhor (cf. 2Cor 5,9) e nos revestimos da armadura de Deus, para podermos estar firmes contra as maquinações do demônio e resistir no dia mau (cf. Ef 6, 11-13). Mas, como não sabemos o dia nem a hora, devemos vigiar constantemente, segundo a recomendação do Senhor, para, ao terminar a nossa única passagem por esta vida terrena (cf. Hb 9,27), merecermos entrar com ele no banquete nupcial, sermos contados entre os benditos do seu Pai (cf. Mt 25,31-46), e não seremos repelidos como servos maus e indolentes (cf. Mt 25, 16), para o fogo eterno (cf. Mt 25, 41), para as trevas exteriores onde “haverá choro e ranger de dentes” (Mt 22,13; 25,30). Pois, antes de reinarmos com Cristo glorioso, compareceremos todos “perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a retribuição do que tiver feito durante a sua vida no corpo, seja para o bem, seja para o mal” (2Cor 5,10); e no fim do mundo sairão “os que tiverem feito o bem para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal para uma ressurreição de julgamento” (Jo 5,29; cf. Mt 25, 46). Tendo por certo que “os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória futura que há de revelar-se em nós” (Rm 8,18; cf. 2Tm 2,11-12), esperamos com fé firme o cumprimento da “feliz esperança da manifestação gloriosa do grande Deus e Salvador, nosso Senhor Jesus Cristo” (Tt 2,13), “o qual transformará o nosso corpo de miséria, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso” (Fl 3,21) e virá “para ser glorificado nos seus santos e admirado em todos os que creram” (2Ts 1,10).” (Lumen Gentium 48)