IN MANUS TUAS, DOMINE!
Em tuas mãos, Senhor, coloco o meu passado, o meu presente e o meu futuro. Tudo o que sou e o que tenho. Os que amo e me são caros. Os que me são confiados. Para que em tudo se faça a Tua Vontade e, possamos ser instrumentos dóceis em Tuas Mãos, para realizar a tua obra de amor no mundo e no coração de todos os homens!

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

                                                             POR QUE TE AMO TERESA?

                A ultima das poesias que Santa Teresinha compôs foi dedicada a Nossa Senhora, e tem como título: “Por que te amo, Maria?”. Em versos alexandrinos Teresa exalta a vida de Maria, que a torna tão semelhante a nós, seus filhos, razão pela qual Teresa se aproxima dela com confiança e ver redobrado o seu amor.
                Não escrevo aqui uma poesia, e penso que não seja a ultima vez que escrevo sobre Teresa; mas, sirvo-me da expressão de Teresa para falar do amor que nutro por ela.
                Penso que muitas pessoas têm uma imagem equivocada de Santa Teresinha. Para muitos, ela é a “Santinha das Rosas”, que distribui pétalas de rosas, e faz chover rosas sobre os que a invocam. Não duvido da intercessão dela; mas, para mim, Teresa é mais do que aquela menina meiga e adocicada, cuja imagem encontramos em tantos santinhos. As vezes penso que esta imagem esconde aos olhos das pessoas a verdadeira fisionomia de Teresa de Lisieux, proclamada Doutora da Igreja, pelo Papa João Paulo II aos 19 de Outubro de 1997, na Praça de São Pedro, em Roma.
                Aproximando-nos dos seus Manuscritos, vamos sendo levados lentamente à descoberta do verdadeiro rosto de Teresa Martin. Embora sua linguagem pareça um pouco “fora de moda”, se perseveramos na leitura de suas obras,  descobrimos  uma gigante na fé, uma testemunha do mais genuíno amor de Deus, uma atleta do Espírito!
                “Por que te amo, Teresa?” – Trata-se de uma pergunta que cada um daqueles que aproximando-se dela pode responder a seu modo e a seu tempo. Sem querer esgotar a resposta, partilho com simplicidade a razão do meu amor por Teresa, irmã de caminhada e exemplo de vida:
                “Por que te amo, Teresa?”  – porque nas entrelinhas dos teus manuscritos nos deixas perceber o quanto tu és semelhante a nós. Não escondes as tuas lutas, tuas fraquezas e derrotas, tua sensibilidade tão aguçada, teu temperamento traumatizado pela morte de tua mãe, quando eras ainda tão pequena e não podias compreender em profundidade o alcance dos fatos. Custou para ti reencontrar o equilibrio, e tu  mesmo confessavas que embora jamais lhe faltasse boa vontade, a tua “cura” foi obra e graça de Deus!
                “Por que te amo, Teresa?”  – porque em ti tudo fala da beleza de uma familia, e do encanto de se ter um lar. Os anos passados no convívio de teu pai e de tuas irmãs deixaram tantas lembranças. O balanço no quintal, a pescaria, os passeios em Alençon, as noites embaladas pelas estórias e cantigas de tuas irmãs, a alegria de estar na igreja em companhia do teu “Rei” , o teu Pai, o primeiro sermão que gravaste no coração, os difíceis anos na Abadia, as peraltices pelas ruas de Lisieux na companhia de Celina e de tuas primas Guérin. Eras uma adolescente nada incomum, tão semelhante às tuas companheiras e amigas, a ponto de  não dispensares sequer o cabelereiro, em algumas ocasiões, para parecer-se mais velha, mais madura, querendo conquistar a realização dos teus desejos.
                “Por que te amo, Teresa?” – porque naquela noite do Natal, acolheste a graça da tua conversão, disposta a esquecer-se sempre de ti, para dar alegria aos outros; mesmo que isso lhe custasse sacrifícios. Invadida pela Luz que se despreendia da manjedoura, tornavas-te uma outra criatura, fazendo tua a paixão de Cristo de salvar os pecadores. Com que perseverança adotaste Pranzini o criminoso como teu filho e, com que alegria acompanhaste no momento derradeiro, poucos minutos de sua cabeça despreender-se do seu corpo, pela força da guilhotina, quando tomou o Crucifixo das mãos do padre e beijou-o como se beija o mais terno amigo.
                “Por que te amo, Teresa?”  – porque desde pequena sempre foste audaciosa. Que vontade enérgica possuias, sobretudo quando se tratava de cumprir os teus deveres e alegrar os que contigo conviviam. Foi graças a esta audácia que lutaste pela tua vocação! Não recuaste diante de tantos “nãos”, não desististe mesmo diante da recusa do Côn. Delatroëtte e do Bispo Mons. Hugonin, a quem te dirigiste na companhia do teu pai. Na tua audácia foste ao Papa, não temendo suplicar-lhe a concessão de ingressar no Carmelo com os teus poucos quinze anos.
                “Por que te amo, Teresa?”  – porque ingressando no Carmelo, confessaste que o único que a atraia era o teu Jesus, sendo o teu desejo unicamente agradá-Lo. Não obstante desejasse amá-lo até a loucura tiveste que conviver com tua fraqueza: o sono e as distrações na oração, a pouca resistência à penitência, e, sobretudo a enfermidade do teu “Rei”, tão estranha aos teus pensamentos. Encontras-te, de fato, a Cruz no Carmelo. Entretanto não fugiste, nem recuaste, ao contrário, abraçaste o Lenho com todo o peso aceitando tudo por amor.
                “Por que te amo, Teresa?” – porque no Carmelo aprendeste a conviver com tuas irmas sem distinção daquelas que lhe eram ou não mais simpáticas. Amaste a todas e por todas te desvelaste, fazendo das tuas poesias, dos teus pequenos serviços, das peças teatrais, da tua companhia tão alegre e risonha nos encontros da comunidade, ocasião para semear alegria e animo no coração das mais fracas e mais difíceis na convivência. Cumpriste assim o mandamento  de amar, suplicando que Jesus amasse as tuas irmãs através de ti.
                “Por que te amo, Teresa?” – porque aprendeste a viver com o necessário, não buscaste privilégios e nem reclamaste os prejuízos que ocorriam por causa da necessidade de tuas irmãs ou por causa do descuido delas quando serviam-se de tuas coisas. Aceitaste o “ultimo lugar” e aprendeste com o Mestre a fazer-se “serva de todos”, não reclamando os teus direitos, e nem protestando tuas necessidades. Impressiona-me quando lembro que nunca tiveste direito de “voto” e nunca pudeste ocupar um lugar na “sala do capítulo”, sendo “obrigada” a permanecer toda a vida no noviciado, a cuidar de tuas irmãs noviças, sem sequer poder servir-se do título de “mestra”.
                “Por que te amo, Teresa?” – porque te tornas-te “irmã” de todos os que se aproximaram de ti. Com que firmeza e ternura acolheste as noviças como tuas irmãs, dedicando-se em forma-las no caminho da renuncia a si mesma e do amor fraterno. Com que determinação acolheste teus “irmãos espirituais” Roulland e Bellière, revelando assim a sua vocação de ser “apóstola dos apóstolos”,  no teu amor sublime pelos sacerdotes. Apesar das fraquezas dos padres não desististe jamais de amá-los, rezando e sacrificando por eles. Tua ultima comunhão dedicaste ao pobre Pe. Jacinto Loyson, que havia abandonado o sacerdocio e perambulava pela França pregando contra a Igreja, renegando a sua fé.
                “Por que te amo, Teresa?” – porque não guardaste para ti somente o teu segredo, a tua descoberta, a qual chamaste de “pequena via”, a via da confiança e do amor! No limite da tua fraqueza descobriste o quanto agrada ao Pai ver o esforço do filho que luta para resistir à mediocridade, e perseverar no amor. Aprendeste e ensinas aos que se aproximam de ti que “ é somente a confiança que nos conduz ao amor”. Tomas nas mãos os teus irmãos para conduzi-los ao Amor Misericordioso de Deus, a fim de que não se cansem na ardua senda da santidade, mas ao contrário, na confiança apoiem-se sempre no amor do Pai que jamais desempara o filho que nele confia.
                “Por que te amo, Teresa?” – porque acolheste tua enfermidade como um dom ainda maior de amor, aceitando sentar-te à mesa com os pecadores, quando da “noite da fé” que suportaste, a medida que teu corpo degenerava e tuas forças iam pouco a pouco desaparecendo. Naqueles dias tão dificeis e dolorosos revelaste teu segredo quando disseste: “Tudo é graça!” Torna-se mais fácil suportar os problemas quando vemos neles as mãos do Pai que não nos desampara e conduz tudo conforme o seu plano de amor!
                 “Por que te amo, Teresa?” – porque teu único amor foi Jesus! Há poucos anos descobriram o que escreveste na porta do teu quarto no cumulo da escuridão da fé que sofreste nos ultimos anos de tua existência: “Jesus é o meu único Amor!” Sim fizeste de Jesus o teu único Amor! Tuas ultimas palavras, foram, de fato, um ato de amor:  “Meu Deus, eu vos amo!”
                “Por que te amo, Teresa?” – porque cumpres a tua promessa de “passar o céu fazendo o bem sobre a terra”, sussurrando nos nossos ouvidos: “Só o amor basta!”...”jamais me arrependi de me ter entregue ao amor!”...”na vida sempre busquei a verdade”. Convida-nos a percorrer a “pequena via” contigo, não desistindo jamais de amar, pois a recompensa do amor é o próprio amor!
                “Por que te amo, Teresa?” – porque qual “rosa desfolhada” tu continuas no coração da Igreja a ser o amor, a lembrar ao mundo e a Igreja, que se faltar o amor falta tudo, nada se sustenta, nada vale a pena. Como o poeta ousas repetir-nos: “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena!”...“Só o amor permanece para sempre!”
                Obrigado, Teresa porque exististe...e continuas a existir no coração de Deus e no nosso coração. Não deixes jamais de nos acompanhar com tua interessão e com teu amor; pois, animados e sustentados por Ti, podemos na Igreja palpitar como o coração, fazendo circular entre nós o Amor de Deus!
                Dom Milton Kenan Junior          



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