IN MANUS TUAS, DOMINE!
Em tuas mãos, Senhor, coloco o meu passado, o meu presente e o meu futuro. Tudo o que sou e o que tenho. Os que amo e me são caros. Os que me são confiados. Para que em tudo se faça a Tua Vontade e, possamos ser instrumentos dóceis em Tuas Mãos, para realizar a tua obra de amor no mundo e no coração de todos os homens!

domingo, 15 de janeiro de 2012

POR UM MUNDO DE JUSTIÇA E DE PAZ!

                Há poucos dias inicíavamos o novo ano de 2012 da era cristã, com  votos de felicidades, desejando saúde, alegria e paz para nossos familiares, conhecidos e amigos. Acompanhando os fatos destas primeiras semanas, não é difícil perceber que para milhões de pessoas as primeiras semanas do Novo Ano foram marcadas pela desolação e pelo desespero diante de catástrofes causadas seja pela natureza enfurecida, como pelas mãos (ou omissões) humanas. Se, por um lado, a novidade do ano nos proporciona possibilidades de renovação e esperanças, por outro, lamentamos que os dramas e aflições vividos pelas populações mais carentes ainda sejam os mesmos.
                No final do mês de dezembro, 400 barracos na Favela do Moinho (no Centro de S. Paulo), foram destruídos por um incêndio, que deixou 1.500 pessoas desalojadas, entre adultos, jovens e crianças. O drama vivido pos estas familias, acompanhado de perto por Dom Odilo, nosso Arcebispo; pela Comunidade Aliança de Misericórdia, pela CARITAS Arquidiocesana, pelos Padres Giampietro da Missão Belém e Julio Lancelotti do Vicariato do Povo da Rua, ainda não teve fim. Ainda hoje, são muitas as familias que estão esperando o auxilio para poderem reconstruir suas “casas” numa área próxima ao centro da cidade, a fim de poderem continuar a garantir a sua sobrevivência com a coleta do lixo.
                Além do drama das familias da Favela do Moinho, somou-se a aflição de centenas de pessoas, que vivem viviam no Bairro da Luz, na chamada “Cracolândia”, quando no dia 3 de janeiro foram surpreendidas com uma ação da Polícia Militar, com o objetivo de coibir e erradicar o consumo do “crack” na Região. Se o cenário daquelas pessoas jogadas pelas calçadas e sargetas, vítimas do consumo da droga, impressionava; cenas de violência praticadas pela Polícia Militar com usuários nas ruas e praças próximas dali impressionaram ainda mais.
                Neste  final de semana o jornal “A Folha de S. Paulo”  apresentava dados de uma pesquisa (DataFolha) que indica a situação de miséria da grande maioria da população que vive na chamada “Cracolândia”: 77% dos que la frequentam moram nas ruas e 20% estão nesta situação há mais de dez anos; 27% não têm trabalho e nem procura um, e quem diz trabalhar, faz bico (45% contra 17% na média em São Paulo) recolhendo material na rua para vender, guarda carros ou se prostitui. Em sua maioria são homens (84%),  entre 16 e 34 anos (63%) e moram sozinhos (71%). O percentual de mães que vivem ali chega a 90% das mulheres entrevistadas.
                Estes numeros indicam que se trata de gente abaixo do índice da miséria, chamados pelo mesmo jornal de “escluídos dos excluídos”. Daí, a gente entende o que o Pe. Julio Lancelotti quer dizer quando afirma: “Alguma coisa devia ser feita, sim; mas não qualquer coisa e nem a pior!” Tratar esta população com gaz, balas de borracha e cacetetes; ou seja, enfrentar esta situação com aparato policial é a “pior coisa” que poderia ser feita.
                Esta tem sido a triste sorte de milhares de pessoas vítimas da violência da droga, no início deste ano Ano. Em poucos dias viram suas esperanças evaporarem e, se houve para eles algum voto de bom ano, estes ficaram apenas nos votos.
                Tem sido eloquente o testemunho das Comunidades Aliança de Misericórdia, Missão Belém, Comunidade Emaús, Missão Eucarística Voz dos Pobres e, do Vicariato do Povo da Rua em acolher, abrigar, socorrer, ajudar centenas de pessoas vítimas da violência brutal. Importante aqui deixar também uma palavra de louvor à Igreja Batista, que mantém naquelas imediações , já há dois anos, a “Cristolândia”, local de acolhida e apoio humano e espiritual às vítimas do “crack”.
                Esperança sempre há, pois a mesma pesquisa afirma que 69% dos entrevistados  pretende procurar tratamento para se livrar da droga. Outros, 54% diz já ter procurado tratamento, sem sucesso.
                Esta realidade, no início deste novo Ano, nos interpela! Mas, olhando um pouco além dos limites do município de São Paulo, avaliamos a aflição das muitas familias, nestas ultimas semanas, vítimas das fortes chuvas, e transbordamento dos rios, que provocam a destruição de casas, rodovias, plantações...em áreas já afetadas no passado. No ultimo dia 12 de janeiro, completou-se um ano da devastação provocada pelas chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro, precisamente em Teresopolis e Nova Friburgo; e os jornais noticiavam o pouco que foi feito para aliviar as familias que no ano passado perderam seus bens, e, sobretudo, seus entes queridos.
                Ao mesmo tempo, com as cenas de dor, de violência insana, de desastres naturais causados por falta de cuidado com o meio ambiente e as populações desprotegidas, vêm à tona denuncias de desvio de verbas publicas, enriquecimento fraudulento, da parte de Ministros da Republica e, lamentavelmente de Magistrados que colocam em duvida a idoneidade de instituições cuja tarefa é salvaguardar a justiça e a paz em nossa Nação!
                Este triste cenário, retratado em poucas palavras, e de forma tão superficial, nos coloca diante da nossa missão no início deste novo Ano de 2012. Um ano importante sob muitos aspectos; sobretudo, pelas eleições municipais que ocorrerão no segundo semestre. Infelizmente para muitos é ocasião de “lucrar” com os votos “comprados” ou “vendidos”. Como seria importante que desencadeássemos em nossas comunidades, a formação das consciências, de tal modo que, o “voto” se transforme num instrumento de eleger aqueles e aquelas que realmente, pelo seu histórico de vida e conduta política e pelo seu programa de governo manifestam um compromisso real com a justiça, a verdade e a paz.
                O Papa Bento XVI, como faz todos os anos, na sua Mensagem para a Celebração do Dia Mundial da Paz deste ano, chamou a atenção para necessidade de “Educar os jovens para a Justiça e a Paz”.
                As palavras do Papa parecem sinalizar para nós o caminho a ser percorrido para não deixar naufragar a esperança diante de fatos tão desalentadores. O Papa fala da importância dos jovens procurarem a verdade, defenderem o bem comum e possuírem perspectivas abertas sobre o mundo e olhos capazes de ver “coisas novas”; ou seja, não se sujeitarem a logica do lucro fácil, do enriquecimento ilícito, e do prazer desenfreado. Devemos sonhar, não podemos deixar de sonhar e lutar pelo sonho de um mundo onde Deus não seja uma categoria a mais de consumo, mas Presença de Amor que estimula homens e mulheres a deixarem-se amar e amarem em profundidade.
                O Papa fala tambem de “relações de gratuidade, misericórdia e comunhão” como alternativa para o mundo frio dos “direitos” e “deveres”, onde a lógica do mais forte se impõe sobre os mais fracos. Gratuidade, misericórdia e comunhão, são no dizer do Papa os indicativos mais importantes para que na sociedade se veja reinar a justiça e a paz..
                Na sua Carta a Filêmon, ao defender o escravo Onésimo, S. Paulo diz que este último é o seu próprio coração (Flm 1,12); e, “se, pois, me tens como companheiro, recebe-o como se fosse a mim mesmo. E se ele te deu algum prejuízo ou te deve alguma coisa, põe isso na minha conta. Eu, Paulo, o escrevo de próprio punho: sou eu que pagarei.” (Flm 1,17-18)
                É uma das mais belas expressões ricas em gratuidade, misericórdia e comunhão, daquele que veneramos como nosso Patrono (Arquidiocese de S. Paulo) e, oxalá servisse de estimulo para um renovado empenho de nossa parte, para vermos surgir uma cultura de respeito, de solidariedade e de paz, onde cada um se tornasse nosso próprio coração; e, pudessemos saldar a conta alheia com nossa solidariedade fraterna.
                Olhando com esperança os destinos do nosso mundo, no inicio deste Novo Ano, quero desejar a todos um Ano repleto de graças divinas, de solidariedade e de paz!

Dom Milton Kenan Júnior
               

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